Desde pequena, meus brinquedos favoritos eram o Neb (aquele boneco que você podia dissecar por dentro) e um laboratório de química de brinquedo. Eu misturava agua e tinta em tubos de ensaio, e pequenos artigos científicos que eu encontrava por aí - um parafuso perdido, um pedaço de fio de cobre (esses eram meu favoritos), e restos de ponteiras de lápis apontadas.
Eu não sabia o que era química, nem tubos de ensaio misturava cores de tinta e de massinha, sempre me perguntando que cor daria no final. Eu não sabia de química nem de cores—mas me interessava fazer perguntas, mesmo que a resposta fosse sempre: marrom.
Minhas primeiras entrevistas vieram mais tarde, com 'meu primeiro gradiente'. Eu usava aquele rádio enorme, amarelo e vermelho, para deixar entrevistados nada à vontade colocando o microfone bem próximo das suas bocas, e o alto-falante no último volume.
Foi também com essa ferramenta que fiz minhas primeiras observações não participativas: quando os adultos se reuniam na cozinha de casa e nos mandavam brincar lá dentro, eu colocava o 'meu primeiro gradiente' dentro da geladeira na expectativa de gravar o que eles diziam. Acho que nunca deu certo, porque não me lembro de ter feito nenhuma descoberta digna de nota com esses experimentos.

O que realmente se tornou digno de nota foi meu interesse pelas pessoas. Lembro-me até hoje de quando descobri que os outros tinham vidas, diferentes e desconectadas da minha. Enquanto eu estava na escola, vejam só - havia outras pessoas em casa, no mercado, na rua, e em lugares que eu nem sabia que existiam. Isso me assustava e me fascinava ao mesmo tempo.
Essa curiosidade nunca foi embora.
Ao invés disso, ela foi me guiando pelos seus próprios caminhos. Um deles desembocou na faculdade de Ciências Sociais. Eu queria entender o mundo. Quais decisões dependem das pessoas? E como elas tomam essas decisões? Quais decisões dependem de uma força maior, ou de um contexto social?
Aos poucos, criei gosto por conectar pontos que parecem soltos, como num grande quebra-cabeças, transformar observações em padrões e ajudar as pessoas e empresas a entenderem o mundo que nos cerca, para tomar decisões mais inteligentes.
Para mim, pesquisa sempre foi mais sobre histórias do que sobre números. Cada projeto trazia descobertas novas, e essa sensação de mergulhar no desconhecido e transformar dados em histórias é o que ainda me motiva.
Mas, com o tempo, fui percebendo algumas frustrações. Muitas metodologias pareciam rígidas demais, e a rotina exigia entregas cada vez mais rápidas, deixando pouco espaço para pensar de verdade sobre como fazemos e porque fazemos pesquisa. De repente, percebi que na correria do dia a dia, reproduzia padrões e métodos sem indagar se essas dinâmicas ainda faziam sentido, na nossa sociedade.
E foi nesse dilema entre curiosidade e frustração que a tan.gen.cia começou a tomar forma. Ela não surgiu de um plano meticuloso ou de uma estratégia de negócios perfeita. Ela nasceu do incômodo – e da necessidade de criar algo que fizesse sentido para mim e para quem também sentia que dava para fazer diferente.
💡 Tangenciar é tocar um ponto sem se fixar nele, explorando ângulos diferentes para enxergar além do óbvio.
O nome tan.gen.cia traduz isso: olhar para pesquisa sem um ponto de vista único, sem ficarmos presos ao óbvio, com mais leveza, estratégia e abertura para novas possibilidades. Mais do que um espaço para ensinar técnicas, a tan.gen.cia quer ser um lugar de reflexão sobre o presente e o futuro da pesquisa.
Se você já sentiu que a pesquisa de mercado poderia ser mais do que apenas tabelas e gráficos, eu te convido a acompanhar essa jornada.
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